A Função do Deus no Paganismo

A Função do Deus no Paganismo


Ainda que um tema muito falado entre os pagãos, sobretudo os homens, ainda se descortina à nossa frente perguntas sobre qual a função do Deus no Paganismo. Buscarei tentar refletir um pouco sobre como o Deus se apresenta dentro dos cultos pagãos. Ainda que a minha experiência seja com a prática wiccaniana, tenho certeza que em alguns outros níveis do paganismo a experiência pode ser observada de maneira análoga.

A maioria das publicações sobre Wicca disponíveis têm um senso comum sobre o Deus: o Consorte da Deusa. Sem dúvidas, ele o é, e na sua união com a Deusa se encontra o grande mistério da criação universal, onde as formas complementares do masculino e do feminino possibilita a geração da vida, mas às vezes pensamentos como este pode levar a interpretação de que o Deus é uma figura preterível na prática ritual pagã. O culto ao Deus sempre esteve presente, de forma que, em alguns momentos, teve grande importância, em algumas civilizações. Seu poder era o poder da vida que se manifesta ininterruptamente.

Se observarmos a Roda do Ano, o Deus se apresenta, a cada Sabbat, como centro de uma mensagem a cada um dos cultuadores, sendo ele o símbolo da vida que nasce, cresce, vive, amadurece e morre, e no morrer, renasce.

No Yule, ele é a promessa do Sol que retorna trazendo o calor à Terra envolta pela aura de morte, pelo gélido véu do inverno que abate a natureza, mas que ao passar o Solstício se torna o Filho da Deusa, parido na Noite mais escura do ano, negra como o Universo, o grande útero donde tudo advém, o Caldeirão onde a vida é dada e renovada ao girar da Roda do Ano. No hiato deixado pelos dias em que o astro rei se ocultava, os antigos clamavam pelo retorno dele, e seu nascimento era sinal de que a vida persistia, dormente.

No Regaço da Deusa, em seu aspecto maternal, ele é alimentado, envolvido em leite. Imbolccelebra o pequeno Deus, em sua face infantil, promessa do calor que retorna. A natureza insiste em renascer, e em meio à neve que ainda existe as primeiras plantas quebram o gelo. É o sonho do impossível que começa a se realizar na natureza. Ao nosso entorno, a lactação dos animais iniciavam e tochas eram acesas para purificar os campos, finalizando o tempo da escassez.

A Deusa rejuvenesce e o Deus se torna um jovem imberbe ao florescer da terra em Ostara. Ele é o belo mancebo que passeia pelos bosques floridos e encontra a jovem Deusa, e em seus corações é despertado um amor de forma pura, ao mirar nos olhos do ser amado. A Beleza e a juventude exulta por toda parte e a virilidade do Deus começa a transparecer nos seres vivos, reflexos da divindade da qual eles fazem parte.

Ao calor dos fogos acesos para celebrar a plenitude da natureza que desabrocha, em Beltane o Deus é o Jovem Gamo, aquele que corre em total liberdade pelos campos, liberdade essa na qual ele encontra a Deusa, agora não mais sua mãe, mas sua companheira, sua amante, jovem e bela, plena de fertilidade. Ele é o cornífero, adornado de chifres, símbolos da virilidade e do poder que ele representa, que une-se à Deusa, e deposita no ventre Dela a sua semente. Essa união é o momento da completude criadora, tão misteriosa e tão bela, onde são resguardados os mistérios antigos. Ele é a fagulha lançada ao ventre da Mãe que tudo gera. É a força propulsora de existências.

No apogeu do Sol, que marca também o início da sua jornada para o outro mundo, encontramos o Deus com a Face do jovem homem, aquele que rege, governa, que prepara a terra para a sua descendência. Ele é aquele que espera o grão crescer, já que sua semente boa é promessa de colheita farta, mesa próspera, ainda que o grão não tenha, ainda, amadurecido. Ele é o calor que aninha os animais, que fertiliza a terra, que traz ânimo às pessoas. Ele é quem ilumina, esclarece, tira das sombras e do desconhecimento a todo o oculto, empodera com magia a natureza e os indivíduos. Senhor de Litha, Ele brilha e faz amarelecer o trigo a ser ceifado tão prontamente.

Na massa dos pães, no grão pisado, o Deus se torna o senhor dos campos semeados. Lammascelebra os primeiros frutos da Terra, a colheita que primeiro vingou. Ele é o homem maduro, que observa os frutos de sua vida. Desobriga-se de fertilizar, se encarrega de colher. É o momento do Deus se doar em forma de sustento aos seus filhos. Simbólica e ritualmente, isto se perpetuou na tradição dos Homens de Vime, queimados em forma de oferenda propiciatória às divindades. Ele doa-se, e neste ato se perpetua, através do grão plantado, morto e renascido.

Mabon mostra o segredo da vida na eterna espiral dupla: Vida e Morte. Uma conduz à outra, uma se carrega de significado na sua contraparte, se sucedendo e assim perpetuando o ciclo sem início nem fim. É o momento de ser grato por toda uma jornada. O Deus é maduro, entrando na ancianidade, seu corpo já pende de cansaço por todas as empresas levadas à cabo. É o tempo de agradecer, de mirar a Cornucópia como um símbolo de finitude. Do seu interior, ao passo que jorra a fartura e os produtos do trabalho de cada ser, se vislumbra a escuridão que irá nos abraçar, escuridão esta para onde parte o Deus.

É o cair das folhas, o resfriar do tempo, o silenciar da natureza. No hibernar dos animais, no esconder-se do verde, no acinzentar do tempo, o Deus parte para a Terra do Eterno Verão. A escassez apavora, e a vida começa a minorar. Os últimos frutos são colhidos, e junto com eles, a colheita do Sangue. Embutidos e conservas são preparados a partir do que não sobreviveria muito, enquanto os resquícios mais resistentes da natureza permanecem vivos como perspectiva de um novo verão. Nisto, o Deus doa a sua vida por amor a Terra, e mitologicamente passa a ser a morte do Gamo Rei, que para não trazer desgraça ao seu povo e à sua terra, cede lugar a outro que possa abençoá-la com fertilidade e Juventude. Ele se aninha no ventre da Deusa no Samhain, e espera, pacientemente, que um novo tempo sobrevenha, e torne-o, mais uma vez, promessa de vida.

Perceber a importância do Deus dentro do paganismo está para além da Roda do Ano. Essa importância pode ser observada nos Ritos de Passagem, na Prática Mágica, nos mistérios, e até mesmo no nosso cotidiano, quando sabemos lançar olhar sobre as coisas e observar o sagrado oculto no profano. Extrair do ordinário o fenômeno é algo que se aprende aos poucos, na vivência com o Sagrado Masculino, que integra o Sagrado de forma mais completa. Veremos isto logo a seguir.

- * -

Adendo (comentário): Não é em toda Tradição que Deus fica do lado direito do altar. Entre os alexandrinos, por exemplo, Deus fica no lado esquerdo, porque ele governa a parte escura da Roda do ano. A visão de Deus no lado direito, e todas as suas implicações, se tornou popular porque é praticamente a única veiculada nos meios wiccanos brasileiros de grande repercussão. Isso acontece porque, infelizmente, ainda temos um problema de "monopólio Wicca" em nosso país, que acaba impondo certas visões particulares a uma grande gama de pessoas, como se fosse a única, ou a mais "correta". Aconselho que você leia o livro "Ritos e mistérios do Wicca", de um escritor português chamado Gilberto Lascariz. É um material bem acessível e que possui muitas informações sobre o Deus, para além de uma visão exclusivista e cada vez mais repetida de blog em blog sobre Deus. BB. Mark

- * -

O Deus se manifesta de diversas formas. Fazendo-se presente em todos os momentos, não apenas nos momentos de poder da Roda do Ano, ele permeia toda a ritualística e a vida dos que se propõem trilhar os caminhos dos antigos.

Ele, a cada Esbat, quando celebramos a Deusa, é aquele que se ajoelha frente ao luar, e imbuído do poder que tem, invoca que a Senhora da Roda Prateada esteja sobre seus filhos, ajudando-os com seu poder. É ele que entoa o cântico de amor e conduz a Deusa em sua dança sagrada pelo céu. Seus passos levam a Deusa a bailar, enquanto Ela espalha o pó das estrelas, conferindo poder mágico e luz aos que buscam os mistérios pela arcana noite.

Ele também é a própria Lua. Convencionou-se dizer que a Lua é um símbolo exclusivamente feminino, ao passo que o Sol é exclusivamente masculino. Mas assim como podemos observar divindades femininas ligadas ao Sol (Como as Deusas Grian, GrainneAmaterasuSigel e outras), existem Deuses ligados ao Poder Lunar e seus mistérios, como GwydionChandraThothMani e outros tantos das mais diversas culturas. Relembramos que as sociedades de outrora ligavam o luar à concepção, e assim a Lua, a priori, foi tida como um Deus, um fecundador. A lua está também ligada ao tempo. Os babilônicos tiveram um dos mais importantes calendários, sendo ele lunar, o qual teria sido feito por Sin, Deus da Lua, Sabedoria e Proteção contra os inimigos.

Aos que escolheram trilhar a senda do sacerdócio, o Deus é aquele que nos toma pela mão, e guia-nos pela noite escura da alma. Ele é aquele que abre as moradas secretas do nosso ser, que nos leva a olhar para dentro de nós mesmos, e encarar aquilo que mais tememos, ou que menos aceitamos. Ele é aquele que mostra as feridas abertas e faz-nos buscar saná-las por nós mesmos, como um guerreiro solitário. Ele nos incentiva e nos mostra como tratar das dores mais agudas, as mazelas mais profundas, buscando a cura mais eficaz. É ele que nos conduz ao submundo e dele nos faz emergir. Ao fim, ele nos capacita e faz com que, tal qual nos campos de batalha, tenhamos compaixão, amor, amizade, companheirismo, confiança e disposição para ajudar na cura dos companheiros de caminho, feridos pelas armadilhas e percursos do viver.

Ele se posta nos umbrais do mundo entre os mundos, nos desafia a se entregar totalmente ao caminho que não tem volta, nos prova como a lâmina provada no fogo. É ele quem nos aponta o fio mortal na hora da resposta mais importante, do passo mais relevante, no voto indissolúvel. Ao dar a resposta, é ele também quem nos entroniza, ou não, em seu círculo de força e magia, poder e alegria, amor e confiança. Mostrar a responsabilidade, apontar os caminhos, apresentar os perigos são atribuições dele, como também conscientizar-nos de nosso poder pessoal, incentivar-nos em nossas buscas, lembrarmo-nos do respeito que devemos a nós mesmos e ao outro.

Na sexualidade, ele é exemplo de uma vida plena e sadia. Ele é livre, e sua liberdade permite encarar sua vida sexual como algo que está entranhado no seu cotidiano. Não existe motivos para vergonha de seu corpo, não existe reserva para com a pessoa que ele escolhe para ter seus momentos de prazer, e não existe culpa no prazer desfrutado, pois ele compreende que todo ato de amor e prazer são rituais. Ensina isso aos seus filhos, mostrando que a diversidade de corpos, cores, opiniões e opções são algumas das muitas faces que resguarda a divindade. O desnudar-se é mais que meramente o livrar-se das roupas, é o ato de auto aceitação que nos faz nos religar ao Eu Superior que em nós habita.

Aos garotos, ele é o pai que ensina, que é companheiro, que compreende, que ama. Ele não é o homem que meramente participou da sua geração, que por convenções sociais e pressões de gênero o relega aos cuidados da mãe, deixando uma lacuna sentimental em seu ser. Ele é aquele que estabelece leis, parâmetros, que ensina, que o ajuda a transpor obstáculos, que o desafia frente às dificuldades, buscando que ele possa ser submetido a verdadeiros ritos de passagem, que o eleve a uma nova condição, que o coloque na condição de homem. Ele nos abraça quando temos frios, nos acarinha quanto estamos tristes, nos protege quando estamos indefesos, nos beija quando precisamos de amor, e nada disso diminui nossa masculinidade, seja qual for a nossa idade.

Às garotas, ele é o que protege, mas que também sabe que uma proteção exacerbada é opressora, diminuidora, tolhedora de liberdades. O Deus sabe que a Deusa tem a sua individualidade, e é sábia o suficiente para todos os assuntos. Para homens sagrados, o Deus tem como papel ser um espelho no qual possamos exercer nosso sacerdócio de forma digna e honrada, uma masculinidade respeitosa e libertadora, sendo instrumento de liberdade para si e para as mulheres que conosco vivem. O Deus conduz os passos que a Deusa em liberdade cria.

Honre a divindade que vive em você, dando preferência à abordagem prática, cotidiana dela. Traga o Deus para uma convivência íntima e ininterrupta consigo todos os dias. Você também pode querer erigir um altar para ele, como forma de fazer um instrumento de conexão constante, um local de encontro permanente com Ele. Irei sugerir uma forma simples de fazê-lo:

Você pode escolher um local. Você pode ter uma pequena prateleira, uma mesa de centro, sua mesa de cabeceira, e escolhê-la para ser o altar consagrado ao Deus. Siga a sua intuição. Use uma toalha de cor branca, uma vela de cor branca, verde, marrom ou laranja, ou da cor de uma divindade preferida. Você pode adicionar uma imagem ou estátua comprada ou confeccionada por você mesmo de seu Deus preferido ou de culto pessoal. Adicione outros símbolos, tais como Pedras pontudas, Bastões, Adagas, Chifres, símbolos solares e de animais tais como touros, cervos, águias. Penas de Falcão são ótimas também para enfeitar o altar. Coloque uma tigela para oferendas também. Se você não dispõe de um espaço a mais para criar um local particular de adoração ao Deus, você pode colocar as mesmas coisas À Direita do Altar que você já fez em casa, dando mais atenção ao espaço sagrado do Deus no seu altar.

Monte o seu altar da forma desejada, e todos os dias saúde o seu altar com uma pequena oração ao Deus e faça oferendas periódicas, como de incensos (Cedro, Canela, Girassol, Musgo de Carvalho), bebidas (Como cerveja, vinho, leite, água) e comidas (Pães, Grãos, de preferência algo feito por você). Deixe um dia, e depois oferte à natureza, enterrando em um lugar arborizado, ou se não, em um vaso de planta.

Tome um óleo perfumado (De preferência Almíscar, Cedro, Cravo ou Junípero, ou uma combinação deles) e o consagre para que você possa se ungir e abençoar com ele. Pelo menos uma vez por semana, tire um momento do dia para meditar um pouco com Deus. Faça um rito de conexão com ele, buscando conversar, e ao fim, abençoe-se com o óleo, ungindo o Chacra do Terceiro Olho, Laríngeo, Cardíaco, Sexual e o seu falo.

Agradeço nesta postagem especialmente ao Bruno Herzog, pela sugestão dada em uma de nossas conversas sobre Masculinidade Sagrada, na qual ele se questionava e acabou me incentivando a escrever algo que viesse a refletir sobre o papel do Deus dentro do Paganismo, de forma mais completa possível. Sei que ficaram lacunas, o que é de se esperar, mas espero que este texto seja o ensejo para que possamos refletir e vivenciar de forma mais efetiva o Deus.

Bênçãos do Senhor que Suscita a Vida!


Para a Religião Antiga, existe um Princípio Criador, que não tem nome e está além de todas as definições. Desse princípio, surgiram as duas grandes polaridades, que deram origem ao Universo e a todas as formas de vida.
Da mesma forma que toda luz nasce da escuridão, o Deus, símbolo solar da energia masculina, nasceu da Deusa, sendo seu complemento, e trazendo em si os atributos da coragem, pensamento lógico, fertilidade, saúde e alegria. Da mesma forma que o sol nasce e se põe todos os dias, o Deus nos mostra os mistérios de Morte e do Renascimento. Na Religião Antiga, o Deus nasce da Grande Mãe, cresce se torna adulto, apaixona-se pela Deusa Virgem, eles fazem amor, a Deusa fica grávida, o Deus morre no inverno e renasce novamente, fechando o ciclo do renascimento, que coincide com os ciclos da Natureza, e mostra os ciclos da nossa própria vida. Para alguns, pode parecer meio incestuoso que o Deus seja filho e amante da Deusa, mas é preciso perceber o verdadeiro simbolismo do mito, pois do útero da Deusa todas as coisas vieram, e, para ele, tudo retornará. E, se pensarmos bem, as mulheres sempre foram mães de todos os homens, pelo seu poder de promover o renascimento espiritual do ser amado e de toda a Humanidade.

A Deusa e seu Consorte vivem em total equilíbrio e igualdade, muitas das estatuetas e pinturas rupestres da antiguidade mostravam a Deusa rodeada por Animais completamente masculinos, como leões e veados, outras estatuetas tinham espécies de corpos mórficos, uma mistura do masculino e do feminino em um só ser.
Na maioria dos Mitos o Deus nasce da Deusa depois se torna seu consorte (marido), trazendo à tona a fertilidade, vive em harmonia com ela depois morre seguindo o ciclo da Vida, morte e renascimento. Não somente como o Sol o Deus esta representado em muitas faces na Natureza, principalmente na sua face indomável, que exemplifica a fase do homem como caçador-coletor representado por um ser com aspecto humano, porém com chifres, chifres esses de Alce, mostrando ainda um animal selvagem.

Uma segunda divindade representando os aspectos masculinos da criação também é celebrada. Ele é o Deus Cornífero, chamado muitas vezes simplesmente de o Deus, protetor das florestas e dos animais que presidia principalmente a caça. Seu culto foi proeminente no Paleolítico, há aproximadamente 12 mil anos atrás, onde os homens o representaram nas paredes das cavernas.
Desta forma, mesmo sendo considerada uma religião centrada no Sagrado Feminino, a Religião Antiga é baseada na dualidade que reflete o equilíbrio e energia da natureza. A Deusa é considerada a doadora da vida enquanto o Deus é o fertilizador.

O Deus Cornífero é o filho e consorte da Deusa. Ele é o senhor da fauna e da flora e também o protetor da criação da Deusa.
É necessário deixar claro que a visão do Deus para a A Religião Antiga em nada se parece com o patriarcal Deus expresso pelas religiões judaico-cristãs. O Deus da Bruxaria é vivo, forte, sexual, ligado aos animais, não sendo em nada semelhante ao assexuado e transcendental Deus monoteísta. Ele representa tudo o que é bom e prazeroso como a vida, o amor, a luz, o sexo, a fertilização.

Com a chegada do Cristianismo na Europa com todo o seu conjunto de pecados, proibições e tabus sexuais, o Deus Cornífero foi transformado na figura do Demônio e do mal pelos primeiros cristãos. Até então o Diabo jamais tinha sido representado com chifres na cabeça e isso só aconteceu para denegrir a imagem do Deus dos Bruxos.
Os chifres não são um sinal de maldade, como querem os cristãos. Antes disso, os chifres são um sinal de virilidade, de força e de vontade. Grande parte dos animais mais viris possuem chifres, como o touro. Por isso o Deus Cornífero também os tem, pois ele é o Deus das Bestas, o Deus dos Bosques, o Senhor de Tudo o que é Livre e Selvagem. Ele é o Caçador, Deus conquistador, da Vontade, das Jornadas e da Liberdade.

O Deus Cornífero orna chifres em sua cabeça não por ser o Diabo, pois Bruxos nem nele acreditam, mas por causa da sua ligação com os animais e a caça. Ele não é de nenhuma forma o Demônio e muito menos é o Deus cristão.
Por ser simbolizado pelo próprio Sol, o Deus mostra suas diferentes faces através da viagem do astro pelas 4 estações do ano. Isto reflete as mudanças dos ciclos sazonais. Ele nasce no Solstício de inverno como um jovem bebê, cresce na Primavera e tornado-se um jovem viril, no verão ele atinge sua maturidade e no outono torna-se o sábio Ancião e se prepara para retornar ao ventre da Deusa e renascer no primeiro dia do inverno.

O Deus Cornífero é o deus fálico da fertilidade. Geralmente é representado como um homem de barba com casco e chifres. Ele é o guardião das entradas e do círculo mágico que é traçado para o ritual começar. É o Deus que morre e sempre renasce. Seus ciclos de morte e vida representam nossa própria existência.
Com o passar do tempo, à medida que a humanidade se tornava sedentária, passando da fase coletora para o desenvolvimento de uma agricultura e a domesticação de animais, surgem as imagens do Deus com chifres de touro e de bode. Em todo caso, todas essas imagens o representam como o Deus portador da renovação e da virilidade.

O antigo Cornífero é o Caçador das Florestas, o Homem Verde, o Senhor dos Animais, o ctônico e escuro Senhor das Sombras que habita o submundo, o Senhor da Morte. O Deus em seu único aspecto celeste representa o Sol – representando o pilar masculino, porém seus principais atributos, que o concretizam como o Deus da Bruxaria, são esses citados.
Com o surgimento da agricultura, o Deus torna-se associado às culturas agrícolas, como o Senhor das Colheitas, que se oferece em sacrifício para que a humanidade possa sobreviver. A origem dos ritos da comunhão é muito antiga, quando o povo consumia a natureza divina transformada em pão e vinho, unindo-se ao seu espírito. Esses ritos estavam intimamente ligados aos mistérios da transformação e reencarnação, e eram retratados nos ciclos do reino vegetal e no mito da Roda do Ano.

O culto aos Deus Cornífero surgiu entre os povos que dependiam da caça, por isso Ele sempre foi considerado o Deus dos animais e da fertilidade, e ornado com chifres, pois os chifres sempre representaram a fertilidade, vitalidade e a ligação com as energias do Cosmos. Além disso a Bruxaria surgiu entre os povos da Europa, onde os cervos se procriam com extremada abundância, por isso eram frequentemente caçados, pois eram uma das principais fontes de alimentação.
É o amante e filho da Deusa, o senhor dos cães selvagens e dos animais. É ele que desperta-nos para a vida depois da morte. Representa o Sol, eternamente em busca da Lua. Seus chifres na realidade representam as meias-luas, a honraria e a vitalidade.
Ainda hoje existe muita confusão a cerca da Bruxaria e isto se deve a Igreja Medieval que transformou os Bruxos antigos em Feiticeiros do Demônio, por conveniência.

Os chifres sempre foram tidos como símbolo de honra e respeito entre os povos do neolítico. Os chifres exprimem a força e a agressividade do touro, do cervo, do búfalo e de todos animais portadores dos mesmos. Entre os povos do período glacial uma divindade era representada com chifres para demonstrar claramente o poder da divindade que o possuía.
Quando o homem saia em busca de caça, ao retornar à sua tribo colocava os chifres do animal capturado sobre a sua cabeça, com a finalidade de demonstrar a todos da comunidade que ele vencera os obstáculos. Graças a ele todo clã seria nutrido, ele era o "Rei". O capacete com chifres acabou por se tornar em uma coroa real estilizada.
Os chifres sempre foram representações da luz, sabedoria e conhecimento entre os povos antigos. Portanto como podemos perceber, os chifres desde tempos imemoráveis foram considerados símbolos de realeza, divindade, fartura e não símbolo do mal como muitos associaram e ainda associam-nos.

O Deus Cornífero é relacionado ao Sol, assim como a Grande Deusa é relacionada à Lua. Sendo visualizado como o Sol, Suas faces estão ligadas a ele. Embora o Cornífero tenha muito mais faces, normalmente o "dividimos" em dois aspectos, da mesma forma que a Deusa possui inúmeras faces, mas nós a "dividimos" em três. Assim, as duas faces do Deus Cornífero são de Deus do Ano Crescente (Filho das Estrelas, Rei Carvalho), correspondendo à metade mais quente do ano e de Deus do Ano Minguante (Filho da Serpente, Rei Azevinho), correspondendo à metade mais fria. Isso ocorre porque para os povos antigos, notadamente os agropecuários, haviam apenas duas estações do ano: verão (Ano Crescente) e inverno (Ano Minguante), e a elas estavam relacionados os fenômenos climáticos.

A Sua face de Deus do Ano Crescente é a sua face "luminosa", enquanto que a sua face de Deus do Ano Minguante é a sua face "trevosa". Para a Bruxaria não há conflito entre luz e sombras e esse é um dos muitos paradoxos que o Deus Cornífero apresenta, entre tantos outros. Luz e sombras são aspectos complementares um do outro e devemos sempre conhecer e vivenciar ambos. Essa é uma das mensagens mais importantes que Ele nos passa.
O Ano Crescente começa em Beltane (1o de Maio no norte e 31 de Outubro no Sul) e termina em Samhaim, também chamado de Halloween (31 de Outubro no Norte e 1o de Maio no Sul). Em Samhaim, Ele morre para depois ressuscitar e dar continuidade aos ciclos naturais. E esse é mais um aspecto paradoxal que o Deus Cornífero representa: o de Deus Sacrificado.

Assim como luz e sombras são "opostos complementares", morte e vida também o são. Para que haja vida é preciso que haja morte. A roda do ano deve estar completa, seguindo seu movimento natural. Por isso o Deus Cornífero morre quando chega o inverno. Para haver toda a efervescência do verão é preciso haver calma e repouso no inverno, da mesma forma que depois de um dia inteiro se praticando esporte freneticamente precisamos de algumas horas de descanso e que depois de um dia inteiro de trabalho é preciso de oito horas de sono. A morte do Deus Cornífero é uma morte à serviço da Vida. É uma morte precedida do renascimento.
Significa que tudo um dia volta para o lugar de onde surgiu, que é o ventre da Deusa, de onde viemos e para onde voltaremos. O fato do Deus Cornífero morrer e renascer do mesmo , representando o Infinito. "Do pó veio, ao pó voltarás." Desse modo, não se vê conflito em Ele engravidar a Deusa, se vermos a questão pelo seu lado simbólico. E o fato de Ele ser o seu próprio pai reforça a ideia de que tudo tem a mesma origem e o mesmo caráter. Não há diferença entre criador e criatura, "como é em cima, é embaixo."

A representação do Deus com chifres deve ter começado porque em certos povos antigos, os caçadores portavam em suas cabeças os chifres dos animais caçados anteriormente. Acreditava-se assim que o caçador adquiriria toda a força daquele animal. Além disso, as chifres que ele usava na cabeça, o ajudavam a se camuflar nos bosques, auxiliando as suas caçadas.
Mas o Deus Cornífero não é apenas um Deus dos Bosques e dos Animais. É também um Deus da Fertilidade, o Senhor da Colheita. Como o Deus Sacrificado, ele era importante para as plantações, pois representava o verão e o inverno, os fluxos climáticos da Natureza, tão importantes para os povos agrícolas.

Ele é um Deus profundamente ligado ao mundo natural. Isso é importante, pois a Bruxaria é uma religião de aspecto imanente, mais do que transcendente, e sempre vemos nossos Deuses na Natureza. E, como a Natureza nunca é estática, mas sempre viva, sempre se transformando, mudando a cada dia, o Deus Cornífero é um Deus do Movimento e da Mudança. Não à toa ele é um Deus Sacrificado. Vive para morrer; morre para viver.
Separar o casal sagrado é praticamente matar a ambos.
E o velho sábio vai murchando e se transforma no Senhor da Morte... ele que é o Senhor de Dois Mundos, pois no ventre dela, de volta, ele vive sua morte e a própria ressurreição. Mistério e segredo, morte e retorno, Ele é o que atravessa os portais dos quais Ela é a Senhora. Ele, o Caçador, que também faz o papel de Ceifador... Ele que ronda o leito dos moribundos e dança a dança da morte. O Senhor dos esqueletos.
Ele que na dança da morte retoma o brilho do sol e sua face negra se ilumina, em uma explosão impossível de conter, e Lugh nasce outra vez...
Ele que é Pai, Filho, Bebê Iluminado, Amante Selvagem, Sábio Educador... ele, o Deus que se revela apenas pela Deusa.

Ele é o Senhor do Submundo, o Caçador, o Pastor e o Curandeiro, na sua face do Inverno. Ele é o Sol renascido no Solstício de Inverno que traz vida e alegria, mas também o Senhor da Luz e da Morte.
No tempo dos nossos antepassados, os chifres foram sempre tidos como símbolo de honra e respeito entre os povos do neolítico. Os chifres exprimem a força e a agressividade do touro, do veado, do búfalo e de todos animais portadores dos mesmos. Entre os povos do período glacial uma divindade era representada com chifres para demonstrar claramente o poder da divindade que o possuía.
O Deus Cornífero é então o mais alto símbolo de realeza, prosperidade, divindade, luz, sabedoria e fartura. É o poder que fertiliza todas as coisas existentes na terra A Conexão com o Sagrado Masculino para o Bruxo é tão importante quando a Conexão do Sagrado Feminino para a Sacerdotisa. Ambos são atos Sagrados indispensáveis na vida Sacerdotal de um bruxo.
Pois nesta mesma, você se Conecta com o seu Deus Interior, o Gamo que abita sua Alma, e se Conectando com Este, você estará se Conectando com sigo mesmo, aprendendo os Mistérios que cerca a Natureza Masculina e vislumbrando o seu Ser, em um Ato de amor a si mesmo e ao seu Fálo, que é mais que importante para todos nós, dentre a Sociedade .

Muitas pessoas se sentem inquietas quando o assunto é Sexo e Sexualidade, mas para o bruxo, o Sexo é algo tão Natural como beber da Fonte do Conhecimento cedida por Daghda. Para o bruxo (a) o Sexo é algo Natural, ele está presente em toda parte, ao nosso redor, em nossas vidas, e por isso é totalmente aceitável e cabível a discussão sobre tal.
Mas Sexo por Sexo se torna mundano, o que não é aceitável para um bruxo (a). Já que acreditamos que o Ato Sexual deve ser feito com total troca de energia. Mas por que fazer Sexo somente com atributo sentimental?!
Como Bruxos (as), devemos pensar da seguinte maneira:. O Sexo em Si é algo ENERGETICAMENTE Sagrado, pois há uma troca imensa de energia do Ser para o outro Ser. É como se no Ato Sexual um impregnasse o outro, doando um pouco de sua energia, vitalidade, virilidade. Sei que alguns diriam que a Deusa diz:. " TODOS OS ATOS DE AMOR & PRAZER SÃO MEUS RITUAIS ", para defender a ideia de Sexo somente por Prazer, mas um Bruxo sabe como que é importante essa troca de energia, que inunda a alma e fica impregnada em seu Campo Áurico.

O Deus Cornífero é então o mais alto símbolo de realeza, prosperidade, divindade, luz sabedoria e fartura. É o poder que fertiliza todas as coisas existentes na terra. A Grande Mãe e o Deus Cornífero representam juntos as forças vitais do Universo.


O Sagrado Masculino


Antes de ingressar na Tradição da Deusa e de reconhecer o poder do feminino sagrado eu sentia uma forte desconexão com Deus.
Green ManSim, este Deus que todos são forçados a acreditar porque faz parte de nossa cultura, do Cristianismo etc.; este Deus tão longe, tão distante. Me lembro que eu não conseguia rezar para ele, sempre precisava de um intermediário, um santo, ou anjo da guarda. Não conseguia sentir Deus na minha vida, ou perto de mim.
Ao ingressar no Caminho da Deusa e reconhecê-la como criadora e existência, de imediato eu senti uma grande conexão com a divindade, em mim e no mundo. A Deusa estava perto, presente, em toda parte. Estava não, está!
Fica em minha mente as palavras de uma irmã da Arte que me disse que a grande harmonia está em a mulher se identificar e se conectar com a Deusa, e o homem com o Deus.
Será que era por isto que eu não me conectava com Deus, ou será que isto se dava por eu não ter encontrado até então o meu caminho espiritual, a Antiga Religião? Acho que podem ser as duas respostas. Mas só estas? Não. Tem também a questão da Natureza, que mesmo estando implícita aqui, é sempre bom ressaltar.
Lembro de uma vez, há mais de dez anos, em que eu estava na casa de uma amiga, na serra, e fui até a varanda. Fiquei a contemplar a natureza, e me surpreendi ao sentir tanta vida, tanto preenchimento. Eu via tudo com muita vivacidade, as cores eram mais vivas e eu parecia que fazia parte de tudo aquilo, parecia não, fazia. Fiquei extasiada com aquela experiência. Nesta época eu não tinha nenhuma conexão com a Natureza, mas mesmo assim eu a senti naquele momento, porque eu parei para contemplá-la. Mas depois não me permiti mais a isto. Somente alguns anos mais tarde, retornando ao seio de uma religião pagã, que eu fui me religar novamente à Natureza e sentir a divindade nela e através dela.
Bom, mas vamos voltar ao Deus. Este Deus a quem me refiro, que minha irmã da Arte citou, seria o mesmo Deus do Cristianismo, por exemplo, ou do Judaísmo? Não. O Deus judaico-cristão está sempre longe e distante, em todas as sua versões.
cernnunosO Deus ao qual me refiro neste texto é o Consorte da Deusa. A Ele é muito mais fácil eu me conectar, pois Ele também está presente em Tudo. Ele é a Natureza selvagem, a força fertilizadora, a energia vital que permeia a vida. Ele “simplesmente” é o Sagrado Masculino, a outra polaridade, oposta, e por isto mesmo complementar, da Deusa. E sabemos que para haver criação, para haver vida, para haver harmonia é necessário o equilíbrio das duas polaridades que permeiam a vida, a masculina e a feminina. Bom, é claro que nelas estão contidos uma infinidade de aspectos, simbolismos, características e etc..
Preciso deixar bem claro aqui que o aspecto selvagem do Deus não está ligado à violência como pode parecer (erroneamente) quando usamos a palavra selvagem. Este ser selvagem do Deus é o ser livre, natural e sexual. Esta sexulalidade não é uma sexualidade pervertida ou pornográfica (ambas frutos de repressão). Esta sexualida é saudável, natural e sagrada ( como ela é vista pelas tradições pagãs, pois gera a vida e é uma celebração desta).
Por isto mesmo que o Deus é chamado de Deus Cornífero, pois é representado com chifres que simbolizam a vida natural e selvagem. Pois muitos de seus animais selvagens também o possuem, o alce, o veado, etc. Os chifres também são símbolos do aspecto do feminino, representando a Lua ( a Deusa) em suas fases crescente e minguante, segundo Starhawk, no emocionante capítulo sobre o Deus em seu livro “A Dança Cósmica das Feiticeiras”.
É muito importante alertar aqui, mais uma vez, que foi este Deus vital, inteiro, profundo, amoroso e verdadeiro que foi transformado na figura do Diabo Cristão na Idade Média, com o intuito da repressão sexual e da desintegração das religiões pagãs, que ameaçavam o poder e o status da Igreja - de nenhuma maneira a Antiga Religião cultuava o Diabo (uma invenção da Igreja) ou o mal. A partir daí a Natureza foi esquecida e hoje lutamos desesperadamente para salvá-la.
Aos poucos a Deusa retorna. E com Ela o Deus Cornífero precisa também retornar. Que estejamos também abertos para recebê-Lo, para nos conectarmos com Ele cada vez mais, dentro e fora de nós. Este Sagrado Masculino que cumpre seu ciclo em cada Roda do Ano, que se sacrifica por Nós e principalmente por Ela, a Deusa.Sagrado Masculino
Hoje não precisamos fazer nossos rituais escondidas nas florestas. Não vivemos mais na época em que a mulher era perseguida em sua espiritualidade e por isto precisava esconder suas práticas. Não devemos trazer este ranço de frustrações para a nossa vida e para a nossa espiritualidade. Podemos compartilhas nossos conhecimentos, nossas celebrações com os homens, pois eles também precisam se conectar com o Deus. E se conectando com o Deus, o homem chegará mais perto da Deusa, assim como a mulher conectada com a Deusa, conhecerá também o Deus.
Eu me lembro de quando eu participava de um grupo de Xamanismo e um colega contou-me que fez uma viagem xamânica e entrou em contato com a Deusa nas profundezas da Terra, nas cavernas. Ele me disse o quanto preenchedor foi aquela experiência, que ele nunca havia sentido tanta plenitude, que ele se sentiu inteiro, completo, dentro do interior da Deusa. Eu logo me lembrei das teorias de Freud nas quais ele diz que a mulher se sente incompleta pois não tem o falo, enquanto o homem é completo em si mesmo. Logo pensei o quanto havia de uma cultura extremamente patriarcal naquela interpretação. Diga-se de passagem, uma interpretação para a qual eu nunca dei crédito.
Na Tradição Celta o Deus é conhecido como Deus Cornífero, Cernnunos, Homem Verde (Green Man), Arddhu, Lugh, Herne. Muitas vezes os nomes vão depender de qual aspecto do Deus queremos ressaltar. Isto se vê muito bem na Roda do Ano.

O Deus


Todas as Deusas são uma só Deusa, todos os Deuses são um só Deus."

Conquanto a Deusa presida a pulsação vital constante do Universo, é imprescindível que entendamos o papel do Deus. Ela é a Senhora da Vida, mas Ele é o Portador da Luz; Ela é o ventre, Ele o falo ereto; Ela gera a vida, Ele é a faísca que inicia o processo, em plena harmonia, sem predomínios nem competições, mas pela completa união... Ambos parceiros no desenrolar da música e dança que criam e recriam o universo ainda hoje... Na Primavera Ela é a Donzela, Ele o Deus Azul do Amor... No verão ela é a Mãe, grávida, ele o Galhudo, o Deus da Vegetação e dos Animais, Cernnunnos... No outono ele desce para o Mundo Subterrâneo, como o Deus Negro do Mundo Inferior, do sacrifício e da Morte e Ela a Anciã que abre os portais e o acolhe durante sua transmutação. No inverno ele renasce do próprio ventre escuro da Deusa, que quase torna, assim, a um só tempo, sua consorte e sua mãe...

O Deus tem sido reverenciado há eras. Ele não é a deidade rígida, o todo poderoso do cristianismo ou do judaísmo, tampouco um simples consorte da Deusa, eles são iguais, unidos.
Vemos o Deus no sol, brilhando sobre nossas cabeças durante o dia, nascendo e pondo-se no ciclo infinito que governa nossas vidas. Sem o Sol, não poderíamos existir; portanto, ele tem sido cultuado como a fonte de toda a vida, o calor que rompe as sementes adormecidas, trazendo-as para a vida, e instiga o verdejar da terra após a fria neve do inverno.
O Deus é também gentil com os animais silvestres. Na forma do Deus Cornífero, Ele é por vezes representado com chifres em Sua cabeça. Em tempos antigos, acreditava-se que a caça era uma das atividades regidas pelo Deus, enquanto a domesticação dos animais era vista como voltada para a Deusa.
Os domínios do Deus incluíam as florestas intocadas pelas mãos humanas, os desertos escaldantes e as altas montanhas. As estrelas, por serem na verdade sóis distantes, são por vezes associadas a Seu domínio.
O Deus é a colheita plenamente madura, o vinho inebriante extraído das uvas, o grão dourado que balança num campo, as maças vicejantes que pendem de galhos verdejantes nas tardes de outono.
Em conjunto com a Deusa, também Ele celebra e rege o sexo. A Wicca não evita o sexo ou fala sobre ele por palavras sussurradas. É uma parte da natureza e assim é aceito. Por trazer prazer, desviar nossa consciência do mundo cotidiano e perpetuar nossa espécie, é considerado um ato sagrado.
Símbolos normalmente utilizados para representar ou cultuar o Deus incluem a espada, chifres, a lança, a vela, ouro, bronze, diamante, a foice, a flecha, o bastão mágico, o tridente, facas e outros. Criaturas a Ele sagradas incluem o touro, o cão, a cobra, o peixe, o gamo, o dragão, o lobo, o javali, a águia, o falcão, o tubarão, os lagartos e muito mais.
Desde sempre o Deus é o Pai Céu e a Deusa a Mãe Terra. O Deus é o céu, da chuva e do relâmpago, que desce sobre a Deusa e une-se a ela, espalhando as sementes sobre a terra, celebrando a fertilidade da Deusa.

O Deus de chifres, para as bruxas, é o companheiro masculino da Deusa Tripla. Ele é dinâmico, a força vital, aspecto masculino de toda a natureza. Nós o veneramos porque veneramos a vida. Ele possui chifres e cauda que denotam seu conhecimento instintivo animal, sua sapiência natural. Este Deus é parte bicho e parte homem, mescla da força vital e perícia xamânica. O Deus Cornífero, como a Deusa, é sexual, terreno, apaixonado e sábio. "Cruel e mau ele não é". Entre os dois, a Mãe Deusa e seu Companheiro, se constrói o mundo. Eles o construíram de amor e desejo. Portanto, sua sexualidade é uma força vital sagrada, verdadeira experiência espiritual. Potencialmente a mais espiritual das experiências.
Talvez este seja o fato mais surpreendente de todos à respeito da feitiçaria. Não deveria ser. Mas preciso admitir que neste mundo, como ele é atualmente, a maioria das pessoas encontra dificuldades em relacionar sexo com espiritualidade. É contra tudo que as religiões patriarcais ensinam sobre o sexo, como vergonhoso e sujo no máximo necessário para a continuidade da espécie.

O Deus Cornífero

O Deus realmente é deixado de lado muitas vezes nos cultos pagãos, como se a energia da deusa pedisse essa dedicação exclusiva. Isto é verdade em parte, porque, não é possível cultuar o Deus adequadamente enquanto não mergulharmos na deusa e nos despirmos do Deus do patriarcado.
Quando no curso de nosso caminho - e isso demora até anos (mas varia muito de pessoa para pessoa) - está na hora do Deus voltar, a própria deusa nos mostra seu filho, consorte, defensor, ancião. O Deus aparece, tríplice como a deusa.
O Deus jovem é, antes de tudo, a criança da promessa, a semente do sol no meio da escuridão. Depois, é o garoto do pólen, o fertilizador em sua face mais juvenil, e traz a energia da alegria de viver, o poder de se maravilhar ante as descobertas da vida, é o experimentador, a face mais sorridente do sol matinal.
Daí surge o Deus azul do amor, o rapaz que cresceu e chegou à adolescência e desabrocha em beleza e masculinidade, é o jovem Deus da primavera, percorre as florestas e acorda a natureza. Ele é o apaixonado, aquele que primeiro busca a deusa como a donzela e propicia o encontro... Ele é o deus da sedução ainda inocente, que não conhece os mistérios da senhora ainda... Ele é toda possibilidade.
Depois ele é o galhudo e o green man... O Deus é o macho na sua plenitude, o senhor dos chifres que desbancou o gamo-rei anterior, ele é força e poder, músculos e vitalidade, ele cheira a sexo e promessas. Ele é o grande amante, atraído irresistivelmente pela senhora ele é o provedor, o sustentador, o senhor defensor. Ele é o senhor das coisas selvagens, o Deus da dança da vida, o falo ereto, o fertilizador. como green man ele também é o senhor da terra e sua abundância, o parceiro da senhora dos grãos. o senhor dos brotos, aquele que cuida dos frutos e os distribui pela terra.
Mas o Deus é também o trapaceiro, o senhor da embriaguez, o desafiador e o ancião da justiça. ele nos faz seguir um caminho e nos perdemos para conhecer o pânico de pan... ele nos deixa loucos como Dionísio, ou perdidos nos devaneios de Neptuno... ele é o desafiador, seja nos duelos, seja na guerra, na luta pela sobrevivência... ele é caprichoso e insidioso, ele nos engana, nos deixa desesperados e sorri - porque esse é seu papel; estimular o novo, mostrar que nosso desespero é inútil e só nos escraviza...
Como a deusa, ele está na fome e no fim da fome, na vida e na doença terminal, na luz e na sombra, no que é bom para você e no que é mau... a deusa nunca está só, ela tem sua contraparte masculina e, no entanto, ele só existe por amor a ela... alias, todos nós somos fruto dessa dança de amor. o Deus é o ancião sábio, o distribuidor da justiça, seja a que se impõe com sabedoria ou raios... ele conhece os segredos dos oráculos, mas sabe que são dela... ele é o repositório do conhecimento, mas a sabedoria é dela... ele lê os sinais da natureza, mas sabe que quem os escreve é ela.
E o velho sábio vai murchando e se transforma no senhor da morte... ele que é o senhor de dois mundos, pois no ventre dela, de volta, ele vive sua morte e a própria ressurreição. mistério e segredo, morte e retorno, ele é o que atravessa os portais dos quais ela é a senhora. ele, o caçador, que também faz o papel de ceifador... ele que ronda o leito dos moribundos e dança a dança da morte. o senhor dos esqueletos.
Ele que na dança da morte retoma o brilho do sol e sua face negra se ilumina, em uma explosão impossível de conter, e Lugh nasce outra vez...
Ele que é pai, filho, bebê iluminado, amante selvagem, sábio educador... ele, o Deus que se revela apenas pela deusa.

Comentários

Mensagens populares